Idealizador e padrinho da Escolinha de Triathlon Formando Campeões, Juraci Moreira é considerado um dos atletas mais consistentes de todos os tempos na distância olímpica (1.500m de natação, 40km de ciclismo e 10km de corrida). O curitibano acumula participações em mais de 100 etapas do Circuito Mundial organizado pela ITU (International Triathlon Union), e é um dos ícones do triathlon brasileiro.

Incentivado pelo pai, que ia ao clube nadar, teve o seu primeiro contato com as piscinas aos nove anos de idade. Entrou na equipe de natação da Sociedade Thalia de Curitiba e, após três anos de treinos recreativos, sua professora o aconselhou a procurar um clube mais tradicional em formar atletas para competição, visto seu progresso rápido na modalidade. Juraci foi então ao Clube do Golfinho, onde competiu até os 14 anos somente com a natação. Ao observar alguns triatletas que já treinavam no clube, o curitibano se interessou pela modalidade e decidiu somar o ciclismo a e corrida à sua rotina de treinos.

Sua estréia no triathlon foi em 1994, ainda aos 14 anos de idade, no Troféu Brasil de Triathlon. Juraci obteve a quinta colocação em sua categoria, completando a distância short triathlon (750m de natação, 20 km de ciclismo e 5 km de corrida) em 1h05min, tempo que surpreendeu a todos e, principalmente, seu treinador de natação, Homero Cachel, que apoiou definitivamente sua transição para a rotina “nada, pedala e corre”.

Até os 18 anos, Juraci competiu como atleta amador, conquistando títulos estaduais e nacionais em todas as categorias de base. Em 1998, competiu pela primeira vez como profissional e pouco tempo depois, aos 19 anos, se tornou o mais novo campeão brasileiro profissional de triathlon de todos os tempos.

De lá para cá, Jura, como é conhecido pelos amigos, se estabeleceu como um dos melhores triatletas do País, acumulando conquistas em todas as categorias que passou. Entre as principais, é possível destacar a medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos do Rio 2007, um dos grandes momentos de sua carreira, e os seis títulos do Campeonato Brasileiro de Triathlon (1998, 1999, 2001, 2002, 2004 e 2013).

Outros resultados importantes do paranaense são as duas medalhas de ouro no Mundialito de Fast Triathlon (2008 e 2009), o 3º lugar na Copa do Mundo do Japão (2002), o título de campeão dos Jogos Sul-Americanos da Argentina (2006), vencedor do Triathlon Internacional de Portugal, Guatemala, Argentina, México, Equador, Chile e Quênia.

Juraci também tem no currículo participação em três Olimpíadas de forma consecutiva. Nos Jogos de Sidney 2000, inclusive, o brasileiro foi atleta mais jovem a disputar o Triathlon na história da competição. O paranaense ainda disputou os Jogos de Atenas 2004 e Beijing 2008, neste último foi o melhor atleta latino-americano da competição, na 26ª colocação. Juraci chegou a estar muito próximo de se qualificar para os Jogos de Londres 2012, porém uma séria de lesões prejudicaram sua performance nas seletivas finais, deixando-o de fora da que seria quarta Olimpíada. Mesmo assim, o atleta fez questão de tatuar os símbolos das Olimpíadas de Sydney e Atenas no braço direito e de Beijing no braço esquerdo, para não se esquecer jamais de ter alcançado, e por 3 vezes, um dos eventos mais sonhados pelos esportistas.

Atleta, ícone e gestor

Após 20 anos de carreira bem sucedidos, Juraci Moreira decidiu que era hora de ajudar o triathlon brasileiro do lado de fora das pistas. Com apoio do Comitê Olímpico Brasileiro e da Confederação Brasileira de Triathlon (CBTri), o hexacampeão brasileiro atua desde o segundo semestre de 2014 na área de gestão esportiva visando contribuir para crescimento da modalidade em todas as suas vertentes.

Junto com a  Federação Paranaense de Triathlon (FPTri), o hexacampeão mundial deu início à programas pioneiros de fomento ao Triathlon e também se tornou referência na elaboração e execução de projetos via Lei de Incentivo ao Esporte.

O primeiro projeto, a “Escolinha de Triathlon Formando Campeões”, não apenas introduziu jovens carentes da rede pública de ensino em uma nova modalidade esportiva, como demonstrou uma maturidade indescritível no desenvolvimento atlético e pessoal desses jovens. Em menos de um ano de atividades, cerca de 30 meninos e meninas, de 10 a 17 anos de idade, descobriram suas habilidades, mostraram muita disciplina e perseverança nos treinos e com isso conquistaram suas primeiras medalhas em competições regionais e até mesmo um torneio nacional de base. O projeto oferece acesso a prática esportiva de forma 100% gratuita e contempla aquisição de equipamentos como bicicletas, tênis, uniformes, contratação de recursos humanos e auxílio transporte.

“Ver crianças e adolescentes que não tem condições financeiras de praticar o triathlon, inseridos em um projeto como este é um grande prazer e um sonho que sempre busquei ajudar a realizar, tenho certeza que além de estarmos formando campeões na vida, deste projeto teremos também grandes campeões no esporte”, explica Juraci

Pensando na renovação do alto rendimento do triatlo brasileiro, o segundo projeto implementado pela FPTri foi a “Seleção Paranaense de Triathlon”. Foram selecionados 6 atletas do estado com potencialidade para o alto rendimento e lhes foi oferecido uma boa infraestrutura para que eles pudessem treinar e competir em grandes eventos nacionais e internacionais do calendário. Desta forma, estaria-se preparando os atletas para integrar as futuras seleções olímpicas do país. Os triatletas receberam uma bolsa auxílio financeira mensal, material esportivo, custeio de viagens e contam com um técnico renomado coordenando seus treinamento e atividades. Os bons resultados dos integrantes da seleção paranaense em 2015 comprovaram que o investimento valeu a pena e contribuíram para que o projeto fosse renovado para uma segunda temporada, em 2016.

“Na minha carreira, o que mais vi foram jovens atletas com potencial enorme para o alto rendimento tendo que abandonar o esporte na fase dos 17 aos 24 anos por falta de apoio financeiro, quando é chegada a fase de decisões, como entrar numa faculdade e buscar um emprego formal, a falta de patrocinadores faz com que percamos excelentes atletas, este projeto visa darmos condições que estes atletas tenham mais oportunidades de trilhar suas carreiras dentro do esporte”, ressaltou o hexacampeão brasileiro.

Já o terceiro projeto, implementado em 2016, é o Simpósio de Capacitação em Triathlon, elaborado para acontecer em 7 cidades paranaenses. A proposta leva 6 especialistas, como nutricionista, ortopedista, psicólogo, preparador físico, entre outros, para discutir assuntos relacionados à modalidade, oferecendo oportunidade de desenvolvimento técnico de alto nível para atletas, técnicos e dirigentes do Estado do Paraná. O simpósio também conta com a participação de um atleta que já tenha vivência em Jogos Olímpicos, pensando em agregar conhecimento tanto para categorias de base como para o alto rendimento.

“Levar conhecimento e troca de experiências para atletas e técnicos é a certeza de termos um esporte com atletas fazendo o certo e atingindo seus objetivos de forma mais rápida e adequada”, lembra Juraci.

Isso tudo não seria possível sem a Lei de Incentivo ao Esporte, que oferece incentivo fiscal à patrocinadores que investirem em projetos aprovados pelo Ministério do Esporte. Qualquer federação estadual pode se habilitar a apresentar projetos similares e tanto a FPTri como o triatleta Juraci Moreira estão a disposição para auxiliar as federações na elaboração e execução dos mesmos.

“Como atleta e gestor gostaria de replicar projetos bem sucedidos como os que executamos no Paraná em todo o Brasil. Esta é uma ferramenta muito importante e acessível para todos, então temos que aproveitar ao máximo esses incentivos para ajudar no crescimento do triatlo em todas as suas esferas”, finaliza o gestor esportivo.